Scenes from the Passion of Christ

Scenes from the Passion of Christ
Scenes from the Passion of Christ // Hans Memling ca. 1430 – 1494

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A doença e a glória de Deus – Parte I





Ao passar, Jesus viu um cego de nascença.

Seus discípulos lhe perguntaram: "Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego? "
Disse Jesus: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.
João 9.1-3

A doença é uma realidade. Ela alcança a todos, sem exceção. Mais cedo ou mais tarde, ela te alcançará de uma forma ou de outra, seja em um resfriado ou seja um câncer terminal. Ela se manifesta de diversas formas.

A pergunta é: De onde ela vem e por que ficamos doentes?

Essa foi a pergunta que um amigo meu me fez recentemente. A motivação por trás de sua pergunta era porque ele tinha ouvido que toda doença era do diabo e se a pessoa está doente, o diabo é o responsável.

Essa pergunta não é nova, ela já foi feita a dois mil anos atrás. Talvez não nas mesmas palavras, mas o questionamento é o mesmo.

Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?”

Os discípulos de Jesus queriam uma explicação perante a doença e nós discípulos de Jesus também queremos explicações.

A lógica dos discípulos é: Se existe cegueira, então é fruto de um pecado específico que esse homem cometeu. Eu receio que é a mesma e única lógica encontrada dentro de muitos círculos religiosos até hoje.

Dependendo da denominação cristã que você faz parte, aceitar o sofrimento e a doença é inconcebível com a sua fé. Aliás, dizem eles, “Cristo levou sobre si as nossas dores, pelas suas feridas fomos sarados”. O cristão não pode ficar doente nem sofrer, pois Cristo já sofreu no seu lugar.

Então expulsam o diabo de um crente, culpam o cristão por ter pecado – “quem pecou? ” – Ou o acusam de ter uma fé fraca, incapaz de remover montanhas. A confusão é grande...
Mas isso é não compreender que a cruz de Cristo realmente conquistou a vitória sobre o pecado, sofrimento e morte. Isso é um fato decisivo e final. Mas o que temos que compreender também é que esses benefícios oriundos da vida, morte e ressurreição de Cristo, embora já seja uma realidade, não é uma realidade perfeita e final nessa vida em que vivemos. Isso é claramente visto com a realidade do pecado.

Cristo levou nossos pecados sobre Ele (2 Co 5.21) e em Cristo somos livres da condenação do pecado (Rm 8.1) mas sabemos que ainda temos a presença do pecado, “o pecado que habita em mim” (Rm 7.20) e seu poder embora derrotado ainda é atuante em nós – “portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais...” (Rm 6.12).

Portanto, veja que o “servo sofredor” de Isaías 53 “foi transpassado por nossas transgressões e esmagado por causa de nossas iniquidades” (Is 53.5) porém a presença dessas transgressões e iniquidades ainda é real.

Isso significa que o que Deus fez em Cristo na cruz não adiantou para nada?! Não! De maneira nenhuma. Significa que Deus resolveu sim o problema do pecado, já decretou sua sentença em Cristo de modo final e decisivo, porém essas bênçãos se aplicam a nós por “estágios”!

Todo cristão sabe que seu passado foi de fato perdoado, que o poder do pecado foi de fato derrotado e que um dia ele será de fato livre da presença do pecado. Há de chegar um dia que “quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1 Jo 3.2) e aí sim “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21.4).

Enquanto a “antiga ordem” (esse tempo presente) não passar, existe morte, tristeza, choro, dor, doença, pecado, e todas as demais consequências do nosso pecado em Adão (Rm 5). Portanto a cruz de Cristo conquistou a vitória sobre o pecado, doença e morte, isso é uma realidade, mas não uma realidade perfeita e completa até que “novos céus e nova terra” aconteça (Ap 21.1). Hoje já experimentamos em parte essa realidade, os próprios milagres que Deus fez e faz na história nos indicam que a cruz de Cristo de fato venceu sobre o pecado e seus efeitos. Mas a realidade completa e perfeita dessa conquista nós não experimentaremos por agora.

Entender isso é fundamental para nossa compreensão bíblica perante o sofrimento humano. É o que a teologia vai explicar com o “now” e “not yet” (“já” e “ainda não”) com relação ao reino de Deus. O reinou de Deus “já” está entre nós, é uma realidade, porém “ainda não” de maneira completa, perfeita e final.

A mesma realidade se aplica para a doença – uma consequência do pecado original de Adão (Gn 3). “Deus já levou sobre si nossas enfermidades” (Is 53), e em parte experimentamos essa realidade, porém não de maneira perfeita e completa. A única certeza que temos que cristãos serão realmente saudáveis e imunes à doença é no “novos céus e nova terra”. A cruz de Cristo de fato conquistou isso para nós e seremos semelhantes a Ele com um corpo glorificado, mas esperar isso aqui na terra é compreender erroneamente a Palavra.

De volta à nossa história....

“Quem pecou?!”

Ah, Jesus poderia ter dito: “Adão pecou e por isso estamos do jeito que estamos. Vocês não sabem que a morte é a consequência desse pecado? Que todo mal vivido tem sua reposta no Éden?”

Ele poderia ter dito: “Vocês pecaram em Adão (Rm 5). E por isso sofrem do jeito que sofrem! ”

Ou então, ele poderia ter respondido: “Quem pecou?! – se essa for a única lógica meus discípulos, então todos vocês deveriam estar cegos! Pois ‘todos pecaram e não dão glória para Deus’ (Rm 3.23). Por que esse cego somente sofre? Todos deveriam nascer cegos!”

Jesus tinha dado uma resposta assim perante outra tragédia, quando Pilatos estava sacrificando galileus em seus sacrifícios: "Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira?” (Lc 13.2).

E quando a torre de Siloé caiu e matou 18 pessoas, ele disse: “Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém?” (Lc 13.4)

Jesus tinha muitas respostas para dar, mas me parece que Jesus decidiu não responder a causa específica daquela doença desse cego de nascença, mas sim o seu propósito -  e como seria bom se nós, Igreja brasileira, aprendêssemos com Jesus!

Disse Jesus: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.
Ouça essa resposta Igreja! Ninguém pecou para que esse cego nascesse assim. É certo que Jesus não estava disposto a nos responder a causa específica dessa doença e sofrimento. Isso não foi importante para Ele aqui, mas sim o propósito disso tudo – para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele!

Quando você entende que Deus tem um propósito inclusive na doença, veremos a doença de uma maneira diferente.

Eu duvido que quando você entende isso, você vai culpar satanás, querer “amarrar” a sua doença ou dar ordens para Deus. Você vai se submeter humildemente à vontade divina, sem entender o “porque”, mas sabendo do “para que” dessa situação – Deus tem um propósito nisso tudo!

Eu não estou dizendo que não iremos orar (Tg 1.14-15) para que Deus cure a doença, mas tem uma grande diferente de orarmos humildemente a Deus e sermos especialistas em causas específicas de todo sofrimento humano. Se Jesus não nos deu uma causa específica, quem somos nós para tal coisa?! Sim, eu sei que a Bíblia menciona algumas causas específicas para a doença e o sofrimento (e isso provavelmente virá em um outro post) mas que aprendamos com essa verdade aqui também – a cegueira desse homem aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele!

Oh, quanto sofrimento esse homem experimentou em sua vida toda. Como foi difícil para ele viver assim. Que vergonha enfrentou. Como seus pais sofreram com ele. Quantas perguntas não respondidas na sua caminhada. Quantas orações não respondidas.

E talvez alguém faça uma objeção: “Mas não seria injusto da parte de Deus, permitir que esse homem tenha vivido tanto tempo enfermo e nesse sofrimento, simplesmente para que agora Deus manifestasse a sua obra nele? ”
Mas o verdadeiro cristão jamais pensará assim. Deus é mais importante para ele do que a sua própria vida. “O teu amor é melhor do que a vida” diz o salmista (Sl 63.3). Se o cristão entende que Deus tem seus propósitos na sua vida inclusive através da doença, ele se alegrará em Deus da mesma maneira. Deus e sua obra é melhor do que a própria vida! É a glória de Deus que está em jogo e que ela seja vista através da minha vida, quer pela doença, quer pela saúde!

Talvez alguém ainda argumente: “Mas o propósito de Deus na vida desse cego foi a cura da sua cegueira física, então todos tem que ser curado pois esse é o propósito de Deus! ”

Eu prefiro acreditar que a maior cegueira na vida daquele homem era a cegueira espiritual pois no final dessa história, após a cura física desse homem, lemos:

Jesus: “Você crê no Filho do homem?”
Ex cego: “Quem é Ele, Senhor, para que eu nele creia?”
Jesus: “Você já o tem visto. É aquele que está falando com você.”
Ex cego: “Senhor, eu creio” – e o adorou!

A pior cegueira e enfermidade é a espiritual! Aquela que está no coração do homem que não vê Deus na face de Cristo e o adora. Foi dessa cegueira que esse homem foi curado. Esse é o maior milagre dessa história. Isso sim é cura. Esse é o maior propósito de Deus, essa é a obra de Deus sendo manifestada na vida desse homem.

Aos fariseus e religiosos que viam normalmente, Jesus diz: “vocês que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece. ” Em outras palavras, vocês que podem ver, estão cegos!

Quanto propósito havia na doença desse homem. Hoje, dois mil anos depois, essa história ainda nos edifica e nos ensina a respeito de Deus e seus planos. Deus ainda recebe glória por causa dessa enfermidade.

Que seja assim na nossa vida. Quer na vida ou na morte, que Deus receba toda glória sempre!

Pare de ser um especialista em causas de doenças e seja grato a Deus pelos seus propósitos na sua vida, quer seja na saúde ou na doença.

“...mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.”

Amém.







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