Scenes from the Passion of Christ

Scenes from the Passion of Christ
Scenes from the Passion of Christ // Hans Memling ca. 1430 – 1494

domingo, 5 de julho de 2015

Olhe para o retrovisor!



Olhar para a história é necessário para aprender a viver no presente e construir um futuro melhor. Em nossos tempos atuais, a independência é um dos marcos mais celebrados. Ontem por exemplo foi a celebração do "independence day" dos Estados Unidos (4 de Julho). Qual país ou nação que não celebraria essa vitória? Mas com essa independência e individualismo moderno, eu receio que uma das independências que não deveríamos celebrar ou nunca "conquistar" é a independência da nossa história! Perdemos o contato com o nosso passado e vivemos como se ele não existisse.

Do ponto de vista da fé cristã então nem se fale. Nós desconhecemos nossas origens, e quem desconhece sua origem vive em constante "crise de identidade". Essa crise poderia ser chamada de "síndrome de Adão” (veja o link) pois sendo o primeiro ser humano, Adão não tinha história, não tinha um passado, uma herança social e cultural. É isso que tem acontecido com o cristianismo moderno, pelo menos na nossa nação, o Brasil. Acreditamos que estamos "reinventando a roda". Nós nos achamos independentes e como Adão, seguimos para frente sem história.

O novo movimento evangélico anda descaracterizado. A nova Igreja brasileira tem construído pontes para o futuro sem alicerces doutrinários históricos cruciais. Não sabemos quem somos e para onde vamos mas fato é que se estamos reinventando cristianismo ou começando algo novo, somos uma nova seita. Não temos que reinventar nada novo, pelo menos em questões da nossa fé, o que precisamos é redescobrir, achar aquilo que se perdeu ou que estava encoberto. Foi assim na reforma protestante, eles não estavam interessados pelo "novo" mas sim pelo "antigo", por verdades bíblicas perdidas. Já foi muito bem dito que os "reformadores não eram inovadores, mas escavadores" (link). Eles escavaram na história da fé cristã, nos Pais da Igreja, nos credos e confissões de fé, escavavam pela busca da sã doutrina e da ortodoxia cristã. Ah, e como marcaram o seu tempo presente! Ah, e como construíram um futuro brilhante!

Nós temos que andar para frente com os olhos no retrovisor! Alias, corremos muito perigo se continuarmos nessa estrada que temos seguido em alta velocidade sem ele. Quem não olha para trás se acidenta na frente. 

A fé cristã é histórica e confessional. Precisamos urgentemente voltar as origens, reaprender doutrinas básicas e fundamentais da nossa fé. Precisamos aprender com os Pais da Igreja, aqueles cuja alguns viveram bem próximos nos tempos dos apóstolos. Precisamos considerar o que a providência divina já fez na história em manter para preservar a Palavra infalível. Precisamos olhar para os credos, para os concílios dos séculos 4º e 5º (Nicéia, Constantinopla, Calcedônia). Precisamos estudar a reforma e os reformadores, concordando ou não com eles, estamos em débito pelo que fizeram. Precisamos das confissões de fé, não que elas sejam infalíveis como a Palavra mas são guias seguros para interpretá-la. Precisamos aprender com os puritanos sobre vida cristã. Precisamos rever o que é avivamento olhando para os "great awakenings" (grande avivamentos) do século XVIII e XIX. Precisamos ver na história como Deus sempre usou a simples pregação expositiva para dar vida a corações mortos! Precisamos reaprender a louvar a Deus, redescobrir que a Palavra cantada é sempre o melhor caminho e o que Deus de fato se agrada. 

Por que se importar com a história?
Porque Deus se importa com ela. Ele não é só soberano sobre ela mas interveio nela. Deus se fez carne, habitou no nosso meio - Jesus Cristo. Cristo irrompeu a história e a sua vida, cruz e ressureição é o maior marco de toda história. Como viver na história hoje sem considerar essa realidade?! É Cristo quem nos chama para relembrar sua história - "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim" (Lucas 22.19).

Foi Ele quem nos chamou a olhar para a história quando disse a respeito da "vinda do Reino de Deus" - "Lembrem-se da mulher de Ló!" (Lucas 17.32).

Depois dele, os seus apóstolos não reinventaram nada. Eles caminhavam para frente na perspectiva do que Cristo fez na história:
Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,
foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras,
e apareceu a Pedro e depois aos Doze (1 Co 15.3-5).

O nosso Cristo é histórico, nossa bíblia é histórica, nossa fé é histórica. Voltemos à Palavra mas também à sua interpretação na história, não à interprete sozinho! Leia os comentários reformados antigos, considere nossos dogmas já estabelecidos, reconheça que talvez os pais da Igreja eram mais contemporâneos que você do ensinamento do Novo Testamento. 

Fuja das "novas revelações" da Palavra. O que foi revelado está na Palavra. Deus inspirou homens e revelou sua vontade a eles e esses escreveram livros que compuseram a Bíblia. Não existem "novas revelações", o que existe é a iluminação do Espírito de Deus para que se possa entender o que já foi revelado! A fase da "revelação" se encerrou com o fechamento do cânon bíblico, a fase agora é de iluminação! 

Já foi muito bem dito que "toda teologia nova é uma heresia". 

Que com a ajuda de Deus possamos sair da crise espiritual atual, da alienação da fé cristã e da independência histórica.  

Olhemos para o retrovisor!





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